O universo dos cassinos digitais e das apostas online foi jogado no centro dos holofotes no início de Maio/2023 quando foram divulgadas os prints de conversas do jogador do Santos, Eduardo Bauermann, onde ele negociava valores sobre um suposto cartão amarelo que ele deveria levar para poder manipular os resultados das casas de apostas do futebol brasileiro.
Foram vários áudios, mensagens e vídeos que revelaram como funciona o esquema de manipulação das apostas no futebol brasileiro com uma gangue que aliciava jogadores para poder alterar as apostas dos jogos de vários campeonatos de futebol pelo Brasil, inclusive o Brasileirão.
Quem trouxe essa informação detalhada do escândalo de manipulação em apostas de jogos no futebol brasileiro foi o Fantástico, que apresentou uma matéria no último domingo (14/05). Confira mais sobre a investigação do escândalo que abalou o futebol no Brasil.
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Ministério Público está por trás da investigação
O material faz parte da investigação do Ministério Público de Goiás sobre a manipulação de apostas em jogos de futebol — no Campeonato Brasileiro das séries A e B de 2022 e também em alguns jogos de estaduais deste ano.
A investigação teve início em novembro de 2022.
Tudo começou quando o presidente do Vila Nova, de Goiânia, descobriu que atletas do clube estavam sendo aliciados por um grupo de apostadores antes de um jogo contra o Sport pela série B do Campeonato Brasileiro. O presidente, então, juntou provas da tentativa de manipulação e procurou os promotores que combatem o crime organizado no estado.
Foi justamente a partir dessa denúncia, que o MP começou a investigar o jogo do Vila Nova e outros dois jogos da mesma rodada da Série B do Campeonato Brasileiro 2022. O que desencadeou na primeira etapa da mega-operação chamada Penalidade Máxima, em março de 2023.
De forma resumida, um grupo criminoso aliciava jogadores e combinava lances em campo para beneficiar um grupo de apostadores. Esse grupo era liderado por Bruno Lopez, que chegou a ser preso e no depoimento reconheceu a combinação para que jogadores cometessem pênaltis nas três partidas e a quadrilha faturasse com as apostas.
Para exemplificar como ocorriam as manipulações, vamos dar um exemplo de como funcionam as apostas online.
Você já sabe que, em uma casa de apostas online, existem vários tipos de apostas que podem ser feitas, em qualquer partida do campeonato Brasileiro, além de poder apostar em vários resultados ao mesmo tempo. Também sabe que o valor de cada aposta vai depender da probabilidade daquele evento ocorrer durante o jogo: quanto mais provável, menor o valor recebido e quanto mais improvável, maior o valor recebido. Logo, ocorrer um gol durante os 90 minutos é mais provável de acontecer, do que apostar que um Jogador A vai receber um amarelo no primeiro tempo. Certo? Certo.
Então, o que a gangue fazia? Basicamente, eles pegavam um evento com probabilidade baixa de ocorrer e ainda combinavam com outros resultados para fazer uma odd ainda mais improvável de acontecer e, consequentemente, receber um valor muito maior do que o apostado. E para garantir que esses eventos ocorreriam, eles aliciavam os jogadores para, justamente, garantir que o evento ocorria.
Dando um exemplo prático agora: imagina que eles peguem 5 jogos de uma rodada do Campeonato Brasileiro da Série A e apostem que 1 jogador iria receber cartão amarelo no primeiro tempo, em cada jogo. Depois, eles combinavam com 1 jogador de cada equipe para levar o cartão amarelo e, assim, garantiam que a odd seria cumprida e recebiam uma bolada no fim da rodada.
Como podemos perceber, é um processo muito simples, mas com um retorno muito alto.
As denúncias contra os atletas
No dia 9 de março, a Justiça de Goiás acatou a denúncia do Ministério Público do estado (MP-GO) e os acusados se tornaram réus do caso. Até o momento, são 16 réus nessa fase, sendo 7 jogadores e 9 apostadores e membros da organização.
De acordo com a divulgação do MP-GO, as propostas atingiam até R$100.000 para os atletas cumprirem os acordos, tomassem cartões, criarem escanteios e até cometer pênaltis.
Os atletas envolvidos se pronunciaram e, alguns se defendem das acusações, outros lamentam estar sendo expostos ao escrutínio público antes das investigações serem concluídas e outros afirmam que vão se pronunciar após a conclusão do processo. Porém, isso não impediu os jogadores envolvidos de serem afastados dos clubes, sendo que alguns deles já fizeram um acordo de cooperação com o MP e se tornarão testemunhas no processo.
O que diz a CBF?
No meio de todo esse escândalo de manipulações de apostas esportivas por partes de jogadores, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, já descartou a paralisação do Campeonato Brasileiro das Séries A e B.
Ednaldo Pereira, presidente da CBF
Não temos como suspender a competição. Não é (acusação) de um dirigente, não é de um presidente de clube, não é de um árbitro. Isso está sendo de atletas. A CBF espera que tenha um rigor de quem está fazendo as apurações. A CBF não tem poder de polícia e Justiça – disse o presidente da entidade futebolística brasileira ao portal “Uol”.
O presidente entende que a Federação é na verdade vítima desse esquema e, portanto, não tem o poder de investigar e punir quem está cometendo esses crimes, isso cabe ao Superior Tribunal de Justiça Deportiva (STJD).
Ednaldo Pereira, presidente da CBF
Quando tem isso (suspeita de manipulação), a gente encaminha para o STJD. Que os causadores sejam suspensos de acordo com as leis – alegou o cartola.
De acordo com a revista Lance!, a CBF vem articulando uma série de ações para tentar combater o sistema ilegal nas partidas dos campeonatos os quais organiza. Para isto, o presidente da instituição declarou que convocou os clubes da Série A para discutir o assunto. O objetivo seria mostrar o que tem sido feito para combater determinada prática e discutir melhorias.
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E as casas de apostas, como fica?
No meio de todo esse caos e denúncias, não podemos deixar de lado outra vítima de todo esse processo: as casas de apostas.
Claro, afinal, embora esteja no centro de todo esse processo, as casas de apostas não tem culpa nenhuma (até que se prove o contrário, claro) da manipulação das apostas esportivas e dos resultados dos campeonatos de futebol. Elas são vítimas tanto quando os clubes, a CBF, os patrocinadores e porque não, os torcedores.
As casas de apostas são o meio que os apostadores podem apostar em lances, gols, partidas, jogadores, mas elas não tem influência nenhuma sobre o que acontece ou deixa de acontecer nos jogos, elas trabalham com a probabilidade de um evento ocorrer ou não. O que os criminosos fazem é justamente garantir que um desses evento ocorra (geralmente, o de menor probabilidade e maior valor), através de suborno, propina ou ameaça.
Anualmente, as apostas movimentam entre R$ 120 bilhões e R$ 150 bilhões no Brasil, com cerca de 1 mil sites ativos para apostas.